quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Tenkara nas Beiras

Viva,

Da agua salgada para a doce, assim foi mais uma etapa destas férias. Subi até ás Beiras e entrei no Portugal profundo. Tão remoto que nem rede de telemovel tinha, chatice...

Fui preparado para três pescas, uma para o Achigã e duas para as trutas e demais espécies que conseguisse enganar. 

Do achigã não reza qualquer história, a agua era muita, os spots também e alguns promissores, com casas em ruínas afundadas com imensas estruturas, mas não dei com eles, nem à superfície quando os chamei com um popper nem a meia agua com um shad vibrante e afundante nem tão pouco no fundo com uns vinis que levei (pouco apropriados para os verdinhos, diga-se).  Como esta pesca está longe de ser a minha especialidade, se é que tenho alguma, e porque nada como falar com os locais que pescam, para saber onde eles moram e a que horas os podemos encontrar. Também não perguntei nada a ninguém. Fica para a próxima.

Mas depois fiz o gosto ao dedo. E que gosto...


Para as trutas levei duas pescas muito diferentes. Uma cana Daiwa CrossFire para lançar umas mini colheres e pequenas amostras de peixinhos e o meu conjunto de Tenkara, uma cana de 3 metros telescópica em carbono, uma linha 5 para pesca à mosca e um leader de 0,16 em fluorocarbon. 

A Daiwa nem sequer saiu do saco, só usei a cana Tenkara. Como se vê, é um conjunto Tenkara à minha maneira e de baixo custo, mas funciona.


Nunca tinha praticado esta pesca, li alguma coisa, vi alguns vídeos e fiquei sempre com a ideia de um dia experimentar, e assim fiz. Como aprendiz da pesca à truta e de Tenkara fiz como vi fazer. 

Quem quiser saber o que é Tenkara este site é bastante bom. 

Tirei da caixinha a mosca que me parecia adequada para a zona, pelo alimento disponível da época. Uma ninfa que afunda com anzol muito pequeno, um pouco a imitar alguns insectos que habitam as margens, se bem que por aqui os pescadores usam com muita frequência os pequenos gafanhotos que andam pelos campos e em grande quantidade na zona.



Esta mesmo que vemos na foto debaixo.



Optei por uma zona que sabia não haver trutas, um poço relativamente grande, descoberto com o sol a entrar directo na agua e com uns peixes a passearem por ali. A ideia era praticar o lançamento e dominar minimamente a técnica sem assustar as trutas. 
Como este spot é marcadamente pressionado pela visita humana, o peixe é muito desconfiado e as aguas completamente transparentes. A cana de Tenkara tem uma linha 5 do comprimento da cana e depois um leader em fluoro com 50 a 60cm e permite que lancemos a linha na agua com alguma suavidade, mas é uma técnica que se deve desenvolver. 

Achei da maior importância lançar a linha por forma a fazer uma onda (na linha) para que esta toque a agua o mais cedo possível perto da ponteira da cana e que essa onda de linha se vá propagando até poisar o leader e a mosca. Se a coisa for bem feita, a linha poisa na agua suavemente e a mosca apresenta-se naturalmente sem perturbar e assustar os habitantes aquáticos. 

Pescador de mar nestas aguas tem de mudar muita coisa. Esta pesca é finesse no estado mais puro. Para quem ama esta actividade é sem dúvida um êxtase a sua prática. 

Voltando à história, ali em pé ou agachado, não tive sucesso. Lançava suavemente, a mosca afundava lentamente, eu dava uns toques ligeiros como que a dar vida aquela ninfa e os peixes maiores passavam por aquilo como se eu fosse um tótó que vinha para ali engana-los. Apenas os peixes miúdos vinham mordiscar o engano. Que raio estou a fazer mal...?, pensei, se calhar esta espécie não se faz às moscas...será? 

Eis que me lembrei de ir para trás de umas pedras, espreitar por cima e vi um fundo com uns exemplares maiores. Escondi-me, lancei e deixei a mosca trabalhar, havia um pouco de corrente, pelo que lá ia ela cheia de vida. Sempre a controlar o engano, vejo um dos grandes a nadar freneticamente e a meter a mosca na boca e cuspiu-a logo a seguir, nem tive tempo de o ferrar, logo de seguida veio o irmão e fez a mesma coisa, mas aí pelo canto do olho e de lado na pedra, levanto a cana e ferro o peixito. Afinal eles fazem-se às moscas, pensei.

Aqui está ele. Penso que seja uma Boga. Francamente não sei reconhecer a espécie. É muito bonita, de um dourado que brilha imenso ao sol. Foi devolvido em perfeitas condições.


Fui mais para baixo, mais perto da zona onde as trutas costumam estar, numa área mais fechada ao sol pela vegetação e num poço pequeno vi alguns exemplares que me desafiaram. Voltei a esconder-me atrás de um salgueiro, lancei muito suavemente e deixei a mosca afundar. Fez umas voltas devido a uns romances de agua e quando os pequeninos estavam a mordiscar a ninfa, veio de lá este bruta-montes e disse...Oh canalha...cheguem para lá que esse petisco é meu e engoliu a coisa. Ferrei à primeira e os pequenotes ficaram-se a rir do guloso.

Talvez por ser maior, tem umas cores diferentes, mas penso ser da mesma espécie do anterior. Foi também devolvido.



Se alguém souber que espécie é, agradecia. Sou um inculto em peixes de agua doce.

Já estava satisfeito com o alcance das pescas no formato Tenkara, mas o melhor ainda estava para vir.

Andei mais umas centenas de metros a jusante, num área completamente fechada ao sol, apenas sombra na agua, mas bem iluminada. Via-se que era uma zona pouco visitada e as silvas, mato e demais árvores e arbustos fechavam o acesso à agua. A profundidade era de uns 30 a 70cm, com alguns fundões. Resolvi entrar na agua, já que na margem não conseguia lançar. Fi-lo de forma muito discreta e encostei-me a uma passagem meio escondido. 

Silvas e sedas de 0,16 são uma combinação de dar cabo dos nervos a qualquer um, mas com paciência lá me fui safando. Com os óculos com filtros polarizados conseguia ver umas silhuetas mas não tinha a certeza do que era. Lancei uma vez e como estava a favor da corrente, depressa a linha ficou esticada e não gostei da forma como a mosca se apresentava. Saí da agua, fui mais para a frente, voltei a entrar agachado e junto aos arbustos e lancei agora contra a corrente de forma que a mosca viesse ter comigo. Ah...agora sim, parecia um insecto que tinha caído na agua. Nada aconteceu...Depois lembrei que tinha uma ninfa afundante, rapidamente troquei a ninfa por uma mosca maior que flutuava (pelo menos no inicio). Imaginem o que é dar um nó com 0.16 para quem está habituado a 0.30 e 0.40...o que me valeu foi que levei os óculos a sério...enfim! 

Lancei...estava agachado, num "canto" a ver a mosca a ziguezaguiar e de repente um relevo na agua e a mosca desaparece, instintivamente levantei a cana e a linha fora de agua e zásssss.... corridas para a esquerda e direita, sempre agachado lá veio ela ter comigo. Epa...e a rede ? Não tinha, segurei o peixe pela linha e depois com o polegar na boca e tirei-o e saí dali pela abertura na vegetação. Estava magrinho e como era uma arco-íris, não a devolvi.


Voltei ao posto e voltei a lançar. Nada aconteceu. Desci mais uns metros e usei a mesma táctica, entrar na agua, protegido pela vegetação e lançar com a corrente e zássss, outra e esta fez umas corridas e dobrou bem o carbono. Estava bem alimentada.


E no mesmo sitio outra ainda.


Um close-up deste belo peixe.


Mudava de sitio mais para baixo cada vez que após lançar várias vezes, não tinha picadas e ao todo tirei 5 exemplares todos arco-íris e não devolvi nenhum. Tinham entre 300 a 400 gr e estavam bem de saúde.

No ultimo spot conseguia ver os peixes, estavam todos nas margens a nadar suavemente, junto à vegetação na sombra mais escura. Ao lançar para a traseira do peixe, quando a mosca pousava na agua fazia umas pequenas ondas circulares e o que constatei duas vezes seguidas foi que essas ondas eram suficientes para o peixe se virar de frente para a mosca e vir ao encontro da mesma. Penso que isso se deva a uma linha longitudinal que a truta que permite captar estas vibrações na agua e distingui-las de tantas outras que ocorrem no caos de um ribeiro. 






Esta foi a mosca matadora de trutas, só usei esta.Fiquei com pena de não ter pescado uma Fário, mas depois em conversa com um pessoa da zona fiquei a saber que a população desta espécie tem vindo a baixar e que a Arco-Irís se tem mantido estável.


No fim, um pouco cansado mas muito satisfeito e feliz, saciei a minha sede numa das centenas de fontes naturais, com uma agua pura e gelada que fez pensar que há dias como este que compensam tudo e que são mais que motivo para gozarmos a vida e o que ela tem para nos oferecer.


Um abraço.
Fernando Rodrigues

4 comentários:

  1. Boas!

    Os primeiros peixes são escalos...mas há quem lhes chame bordalos tambem!

    Boas trutas para um final de época!

    Abraço

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  2. Obrigado pela informação, agora já sei que espécie é. Acerca das trutas, diz que quem gosta que estavam boas. Como a época acaba em Julho e fui nos últimos dias. Para o ano volto!Ab.

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  3. Olá Fernando, conheci hoje o seu blog e explorei-o tendo gostado bastante dos artigos que escreve.. também sou pescador de mar e rio, nas beiras! no interior dedico-me mais à pesca em pequenos regatos, e sim, confirmo o que o amigo ninja matrix tinha já indicado, o primeiro peixe é um bordalo (conhecido por escalo principalmente no norte), e quanto à razão do 2º que capturou apresentar uma tonalidade mais escura isso deve-se ao facto de frequentar águas mais frias, em zona de sombra, estes peixes apresentam-se mais escuros, em zonas mais expostas ao sol tornam-se mais claros.. é uma delícia a pesca desses pequenos ciprinídios, com isco vivo ou artificial. as trutas são também maravilhosas, mas quanto à pesca das mesmas nunca pratiquei. em que riacho pescou? na beira baixa só conhço 2 rios/ribeiras que possuem trutas (fário, penso eu), na beira alta são mais frequentes. Cumprimentos!
    João P.

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  4. Caro João,
    Não me leve a mal mas não vou revelar o sitio em causa, não por si, mas pelos gulosos...
    É uma pesca que vou seguramente voltar a fazer, para o ano que vem.
    Abraço.

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